Escola de valores

A Sociedade Filarmónica "Monsenhor José Cacella" desde sempre desempenhou um papel importante na formação musical de todos quanto passam pela sua Banda Filarmónica ou pela sua Orquestra Juvenil.
Desta forma, foram muitos os músicos que acabaram por seguir a carreira musical e que se destacaram no panorama nacional e e concursos e festivais internacionais.

A Escola de Música da SFV, uma Escola de valores

A Escola de Música da SFV, uma Escola de valores

Paulo Barbosa

Era outono e estávamos em 1976. Pelas mãos de meu pai, entrava eu, na Escola de Música da Sociedade Filarmónica Vestiariense Monsenhor José Cacella.
Era mais um aluno de música. Um novo aluno e o trompete foi o instrumento musical escolhido.
Quase meio século se passou e importa, agora, perceber o quanto aquela aprendizagem que ali recebi, se refletiu em mim, enquanto pessoa, muito para além do músico que fui. À data e para mim, tudo era novidade: a simpática terra de nome Vestiaria, as instalações carinhosamente tratadas por “Casa da Música”, as pessoas, os colegas de caminhada e, sobretudo, a atividade que naquele momento se iniciava: aprender música.
Afinal, já meu pai, em menino, por aquelas “lides” e chão teria andado. Sem sucesso artístico é verdade, mas algo teria ficado na sua essência de pessoa. Para além de uma enorme paixão pela arte, ficara um amor desmesurado pela mui nobre Instituição da sua terra, pela nossa querida Sociedade Filarmónica "Monsenhor José Cacella". Uma paixão que nos assola e contagia a todos os que por lá passaram.
Em pouco tempo, aquele gaiato franzino, daria continuidade à frustrada aventura musical de seu pai e o Freitas Gazul, o velho livro de solfejo, folheado até à exaustão, de onde sobressaiam os seus cantos em tons acastanhados, denotando bem o seu uso e abuso, se tornava no seu primeiro companheiro de caminhada. Afinal, a tão almejada lição n.o 100 do solfejo, era o primeiro objetivo. O quanto aprendi, meu Deus. Há uma velha máxima que nos diz: “quem só Direito estuda, nem Direito sabe”. E como tão bem, esta máxima se aplica no caso. Nem só música, eu, nós, todos os que “por lá” passámos, aprendemos e/ou estudámos. Houve, certamente, quem desses ensinamentos, dessas aprendizagens, se esquecesse, mas que os aprendeu, viveu e recebeu...disso não restam dúvidas. Aprendemos a respeitar a Instituição, o passado, a História, as pessoas, a idade das pessoas e por conseguinte, a sabedoria que essa provecta idade lhes carreava e carreia – saudação aos vivos, homenagem aos mortos. Aprendemos a respeitar quem preconizou tamanha riqueza, tamanho tesouro, que numa humilde aldeia se erguia. Aprendemos a respeitar e honrar quem, ali e gratuitamente, laborava em prol de uma maior e melhor coletividade, de uma maior e melhor Instituição e sempre em prol da comunidade. Aprendemos a respeitar quem, abnegadamente, dava o tempo que à família deveria ser dado, em abono da nossa querida Sociedade Filarmónica Vestiariense "Monsenhor José Cacella. Aprendemos a respeitar quem fez reconhecer os pergaminhos, não só de bem fazer, mas, também, de qualidade artística, reconhecida por este país fora.
A nobre arte dos sons carrega consigo a sensibilidade para a boa vivência em sociedade, mormente, em comunidade, ou entre pares. Essa era, é e deverá ser sempre a premissa. A Escola de Música da Sociedade Filarmónica "Monsenhor José Cacella” ou de uma qualquer Sociedade Filarmónica "Monsenhor José Cacella” desta vida, que, felizmente, ainda que em triste declínio, as há, serão sempre “mães” e “pais” de uma conduta que um dia, naquele ou noutro momento, não importa, das nossas vidas virá ao de cima.
Foi com as Gentes que por lá passaram, que aprendi a amar aquele belo recanto e amar aquele “recanto”, é como que amar o regaço de uma “mãe”. É amar quem bem nos fez e quem tão bem nos ajudou a formar. Hoje, amanhã e sempre, a Instituição só nos pede em troca de tudo o que nos dá, que a estimemos, que a amemos, que a respeitemos e que a honremos.
Que os novos gaiatos e gaiatas, franzinos, adultos do amanhã, saibam respeitar e valorizar os ensinamentos que ali, na nossa tão querida e amada Sociedade Filarmónica "Monsenhor José Cacella”, receberam. Saibam amá-la e saibam retribuir o imenso que “ela” também lhes dá e deu.
Muitos anos de vida à Sociedade Filarmónica Vestiariense "Monsenhor José Cacella”, “personificada” pela sua Escola de Música, pela sua Banda de Música, por todos os que a amam e respeitam. Que este sonho lindo, que um dia Monsenhor José Cacella preconizou, perdure na eternidade do tempo. Muito obrigado. Muito obrigado Sociedade Filarmónica Vestiariense "Monsenhor José Cacella, muito obrigado aos Mestres que me receberam na sua Escola de Música e me ajudaram a formar enquanto pessoa que sou.